quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SÍNDROME DE BURN-OUT

SENSAÇÃO DE ESTAR ACABADO
(SÍNDROME DE BURN-OUT OU SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL) CID-10 Z73.0

1 DEFINIÇÃO DA DOENÇA – DESCRIÇÃO

A sensação de estar acabado ou síndrome do esgotamento profissional é um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho
em si, desgasta-se e, em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece inútil.

Segundo Maslach & Jackson, em 1981 e em 1986, e Maslach, em 1993, a síndrome de esgotamentoprofissional é composta por três elementos centrais:
exaustão emocional (sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo);
despersonalização (reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receber os serviços ou cuidados do paciente);
diminuição do envolvimento pessoal no trabalho (sentimento de diminuição de competência e de sucesso no trabalho).

Deve ser feita uma diferenciação entre o burn-outg, que seria uma resposta ao estresse laboral crônico, de
outras formas de resposta ao estresse. A síndrome de burn-out envolve atitudes e condutas negativas com relação aos
usuários, aos clientes, à organização e ao trabalho, sendo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. O quadro tradicional de estresse não envolve tais atitudes e condutas, sendo um esgotamento pessoal que interfere na vida do indivíduo, mas não de modo direto na sua relação com o trabalho.
Pode estar associada a uma suscetibilidade aumentada para doenças físicas, uso de álcool ou outras drogas (para obtenção de alívio) e para o suicídio.

2 EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS

A síndrome afeta principalmente profissionais da área de serviços ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como os trabalhadores da educação, da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários,
professores, entre outros.
Ultimamente, têm sido descritos aumentos de prevalência de síndrome de esgotamento profissional em trabalhadores provenientes de ambientes de trabalho que passam por transformações organizacionais, como dispensas temporárias do trabalho diminuição da semana de trabalho, sem reposição de substitutos, e enxugamento (downsizing) na chamada reestruturação produtiva.
O risco da síndrome de esgotamento profissional é maior para todos aqueles que vivem a ameaça de mudanças compulsórias na jornada de trabalho e declínio significativo na situação econômica. Todos os fatores de insegurança social e econômica aumentam o risco (incidência) de esgotamento profissional em todos os grupos etários.
Em geral, os fatores relacionados ao trabalho estão mais fortemente relacionados ao trabalho em si do que com os fatores biográficos ou pessoais. Os fatores predisponentes mais importantes são: papel conflitante, perda de controle ou autonomia e ausência de suporte social.
A relação da síndrome de burn-out g ou do esgotamento profissional com o trabalho, segundo a CID-10, poderá estar vinculada aos “fatores que influenciam o estado de saúde: (...) riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias socioeconômicas e psicossociais” (Seção Z55-Z65 da CID-10):
ritmo de trabalho penoso (Z56.3);
outras dificuldades físicas e mentais relacionadas ao trabalho (Z56.6).
Havendo evidências epidemiológicas da incidência da síndrome em determinados grupos ocupacionais, sua ocorrência poderá ser classificada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling.
O trabalho pode ser considerado fator de risco no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia multicausal desta doença. Trata-se de um nexo epidemiológico, de natureza probabilística, principalmente quando as informações sobre as condições de trabalho, adequadamente investigadas, forem consistentes com as evidências epidemiológicas
disponíveis.

3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO

No quadro clínico podem ser identificados:
história de grande envolvimento subjetivo com o trabalho, função, profissão ou empreendimentoassumido, que muitas vezes ganha o caráter de missão;
sentimentos de desgasteg emocional e esvaziamento afetivo (exaustão emocional);
queixa de reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receberos serviços ou cuidados do paciente (despersonalização);
queixa de sentimento de diminuição da competência e do sucesso no trabalho.
Geralmente, estão presentes sintomas inespecíficos associados, como insônia, fadiga, irritabilidade, tristeza, desinteresse, apatia, angústia, tremores e inquietação, caracterizando síndrome depressiva e/ou ansiosa. O diagnóstico dessas síndromes associado ao preenchimento dos critérios acima leva ao diagnóstico de síndrome de esgotamento
profissional.

4 TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS

O tratamento da síndrome de esgotamento profissional envolve psicoterapia, tratamento farmacológico e intervenções psicossociais. Entretanto, a intensidade da prescrição de cada um dos recursos terapêuticos depende da gravidade e da especificidade de cada caso.

PSICOTERAPIA: a psicoterapia está indicada mesmo quando são prescritos psicofármacos, pois a síndrome de esgotamento profissional refere-se a um processo de desinvestimento afetivo no trabalho que antes era objeto de todo ou grande parte desse investimento. O paciente necessita, portanto, de tempo e espaço para repensar (e resignarse) sua inserção no trabalho e na vida. O paciente encontra-se fragilizado e necessitando de suporte emocional;
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: a prescrição de antidepressivos e/ou ansiolíticos está indicada de acordo com a presença e gravidade de sintomas depressivos e ansiosos. Atualmente existe uma grande variedade de drogas antidepressivas e de esquemas posológicos possíveis. A prescrição deve ser acompanhada por especialista, pelo menos em sistema de interconsulta. Freqüentemente, estão indicados os benzodiazepínicos para controle de sintomas ansiosos e da insônia, no início do tratamento, pois o efeito terapêutico dos antidepressivos tem início, em média, após duas semanas de uso;
INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS: uma das características centrais da síndrome de esgotamento profissional é o afastamento afetivo do trabalho, comprometendo o desempenho profissional e, muitas vezes, a própria capacidade de trabalhar. Cabe ao médico avaliar cuidadosamente a indicação de afastamento do trabalho por meio de licença para tratamento. O médico deve envolver o paciente nessa decisão, procurando ajudá-lo tanto a afastar-se do trabalho, se necessário para o tratamento, quanto a voltar para o trabalho quando recuperado.
Além disso, o médico e demais membros da equipe de saúde devem estar aptos a justificar cada uma de suas recomendações, perante a organização onde o paciente trabalha, o seguro social e o sistema de saúde, buscando garantir o respeito à situação clínica do trabalhador. O médico deve estar apto a lidar com as dificuldades envolvidas em um processo de afastamento e retorno ao trabalho, como, por exemplo, a ameaça de demissão após a volta ao trabalho. Muitas vezes, a síndrome de esgotamento profissional caracteriza um momento da vida do sujeito em que se processam grandes mudanças de posição, do posto de trabalho na hierarquia ou mesmo de emprego. Por vezes, a síndrome de esgotamento profissional é
uma seqüela encontrada em um paciente desempregado. Essas situações exigem suporte social, fundamental para garantir a qualidade de vida, concretizado na garantia do direito ao tratamento, do acesso aos serviços de saúde, da seguridade social e do reconhecimento do sofrimento. A equipe de saúde dever estar apta a orientar o paciente e seus familiares quanto a esses direitos e orientar familiares, colegas de trabalho, patrões, chefes e gerentes a lidar com a situação de doença do paciente até que este retome sua capacidade de trabalho*. Especial atenção deve ser dada à realização de laudos, pareceres, atestados e emissão da CAT, visando ao reconhecimento social (incluindo dos seguros de saúde e/ou da Previdência
Social) de um padecimento que, mesmo não apresentando lesão física aparente, compromete a capacidade de trabalhar.

5 PREVENÇÃO

A prevenção da síndrome de esgotamento profissional envolve mudanças na cultura da organização do trabalho, estabelecimento de restrições à exploração do desempenho individual, diminuição da intensidade de trabalho, diminuição da competitividade, busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um. A prevenção desses agravos requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e os de vigilância. É importante que o paciente seja cuidado por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, que dê conta tanto dos aspectos de suporte ao sofrimento psíquicog do trabalhador quanto dos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho.
Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho, deve-se:
informar ao trabalhador;
examinar os expostos, visando a identificar outros casos;
notificar o caso aos sistemas de informação em saúde (epidemiológica, sanitária e/ou de saúde do trabalhador), por meio dos instrumentos próprios, à DRT/MTE e ao sindicato da categoria;
providenciar a emissão da CAT, caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social, conforme descrito no capítulo 5;
orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação ou controle dos fatores de risco.

O diagnóstico de um caso de síndrome de esgotamento profissional deve ser abordado como evento sentinela e indicar investigação da situação de trabalho, visando a avaliar o papel da organização do trabalho na determinação do quadro sintomatológico. Podem estar indicadas intervenções na organização do trabalho, assim como medidas de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio.

6 BIBLIOGRAFIA E LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIDAS
BERTOLOTE, J. M. (Org.). Glossário de termos de psiquiatria e saúde mental da CID-10 e seus derivados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
CODO, W. (Coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes
diagnósticas. Tradução Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
SELIGMANN-SILVA, E. Psicopatologia e psicodinâmica no trabalho. In: MENDES, R. (Ed.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu,
1995, p. 287-310.
DELIRIUM, NÃO-SOBREPOSTO À DEMÊNCIA, COMO DESCRITA CID-10 F05.0

1 DEFINIÇÃO DA DOENÇA – DESCRIÇÃO
Delirium é uma síndrome caracterizada por rebaixamento do nível de consciência, com distúrbio da orientação
(no tempo e no espaço) e da atenção (hipovigilância e hipotenacidade), associada ao comprometimento global das
funções cognitivas. Podem ocorrer alterações do humor (irritabilidade), da percepção (ilusões e/ou alucinações
especialmente visuais), do pensamento (ideação delirante) e do comportamento (reações de medo e agitação
psicomotora). Geralmente, o paciente apresenta uma inversão característica do ritmo vigília-sono com sonolência
diurna e agitação noturna. Pode vir acompanhada de sintomas neurológicos como tremor, asterixis, nistagmo,
incoordenação motora e incontinência urinária. Geralmente, o delirium tem um início súbito (em horas ou dias), um
curso breve e flutuante e uma melhora rápida assim que o fator causador é identificado e corrigido. O delirium pode
ocorrer no curso de uma demência, pode evoluir para demência, para recuperação completa ou para a morte. Apresenta
distintos níveis de gravidade, de formas leves a muito graves.
2 EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS
Quadros de delirium têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes
substâncias químicas tóxicas, ou condições:
• substâncias asfixiantes: monóxido de carbono (CO), dissulfeto de hidrogênio (H2S);
• sulfeto de carbono;
• metais pesados (manganês, mercúrio, chumbo e arsênio);
• derivados organometálicos (chumbo tetraetila e organoestanhosos);
• trauma crânio-encefálico (TCE).
Deve ser afastada a possibilidade de uma demência preexistente, estabelecida ou em evolução. O delirium
pode decorrer de uma condição médica geral, como o experimentado por alguns pacientes durante períodos de
hospitalização. De 15 a 25% dos pacientes em alas de medicina interna e 30% dos pacientes em alas cirúrgicas de
tratamento intensivo e unidades cardíacas apresentam delirium por intoxicação com substância – devendo ser verificada
a droga específica envolvida ou abstinência de substância – ou devido a múltiplas etiologias.
Em trabalhadores expostos a essas substâncias químicas neurotóxicas, o diagnóstico de delirium relacionado
ao trabalho, excluídas outras causas não-ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling,
em que o trabalho desempenha o papel de causa necessária.
3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
No que se refere aos quadros relacionados ao trabalho, devem ser observados os seguintes critérios
diagnósticos:
• rebaixamento do nível da consciência – traduzido pela redução da clareza da consciência em relação
ao ambiente, com diminuição da capacidade de direcionar, focalizar, manter ou deslocar a atenção. É
o aspecto fundamental entre os critérios diagnósticos para o delirium;
• alterações na cognição, tais como déficit de memória, desorientação, perturbação de linguagem ou
desenvolvimento de uma perturbação da percepção que não é explicada por uma demência preexistente,
estabelecida ou em evolução;
• perturbação que se desenvolve ao longo de um curto período de tempo (horas a dias), com tendência
a flutuações no decorrer do dia;
• existência de evidências a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais de que a perturbação
é conseqüência direta ou indireta, associada a uma situação de trabalho.
4 TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS
O delirium, enquanto quadro agudo ou subagudo, caracteriza-se como uma emergência médica, e o primeiro
objetivo do tratamento é controlar a condição ou o fator que o está causando. No caso da exposição ocupacional a
agentes tóxicos para o sistema nervoso central, o afastamento do paciente/trabalhador do ambiente de trabalho é a
primeira conduta a ser tomada. Prover suporte físico (evitar acidentes: os pacientes podem se machucar devido à
desorientação e alterações psicomotoras), sensorial e ambiental (controle do nível de estímulos do ambiente: nem
pouco nem muito, manter referências conhecidas pelo paciente e pessoas calmas e familiares por perto).
O tratamento farmacológico sintomático é necessário nos casos em que há insônia e sintomas psicóticos
como alucinações, delírios e agitação psicomotora. O medicamento de escolha é o haloperidol em dose inicial variando
de 2 a 10 mg (dependendo do peso, idade e das condições físicas do paciente) por via intramuscular, repetida ao final
de uma hora se o paciente permanecer agitado. A dose oral deve ser 1,5 vez maior que a parenteral, para manter o
mesmo efeito terapêutico. A dose diária efetiva de haloperidol pode variar de 5 a 50 mg, de acordo com a gravidade do
delirium. A insônia pode ser tratada com benzodiazepínicos de meia-vida curta, como o lorazepam. O uso de
anticonvulsivantes está indicado nos casos em que há convulsões concomitantes.
5 PREVENÇÃO
A prevenção do delirium, não-sobreposto à demência, relacionado ao trabalho, consiste na vigilância dos
ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na introdução deste capítulo.
Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento
seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao
sofrimento psíquicog do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho.
As medidas de controle ambiental visam à eliminação ou à redução da exposição a substâncias químicas
envolvidas na gênese da doença, por meio de:
• enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalho, se possível utilizando sistemas
hermeticamente fechados;
• normas de higiene e segurança rigorosas, incluindo sistemas de ventilação exaustora adequados e
eficientes;
• monitoramento sistemático das concentrações no ar ambiente;
• adoção de formas de organização do trabalho que permitam diminuir o número de trabalhadores expostos
e o tempo de exposição;
• medidas de limpeza geral dos ambientes de trabalho, de higiene pessoal, recursos para banhos, lavagem
das mãos, braços, rosto, troca de vestuário;
• fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual adequados, de modo
complementar às medidas de proteção coletiva.
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da
atividade, buscando conhecer, entre outros aspectos:
• conteúdo das tarefas, dos modos operatórios e dos postos de trabalho;
• ritmo e intensidade do trabalho;
• fatores mecânicos e condições físicas dos postos de trabalho e das normas de produção;
• sistemas de turnos;
• sistemas de premiação e incentivos;
• fatores psicossociais e individuais;
• relações de trabalho entre colegas e chefias;
• medidas de proteção coletiva e individual implementadas pelas empresas;
• estratégias individuais e coletivas adotadas pelos trabalhadores.
A participação dos trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das medidas
corretivas e de promoção da saúde que envolvam modificações na organização do trabalho. Práticas de promoção da
saúde e de ambientes de trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de drogas,
especialmente álcool.
Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho deve-se:
• informar ao trabalhador;
• examinar os expostos, visando a identificar outros casos;
• notificar o caso aos sistemas de informação em saúde (epidemiológica, sanitária e/ou de saúde do
trabalhador), por meio dos instrumentos próprios, à DRT/MTE e ao sindicato da categoria;
• providenciar a emissão da CAT, caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social,
conforme descrito no capítulo 5;
• orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação ou
controle dos fatores de risco.
TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO OU SINTOMÁTICO NÃO-ESPECIFICADO
Este termo compreende uma série de transtornos mentais agrupados por terem em comum uma doença cerebral de etiologia demonstrável, uma lesão cerebral ou outro dano que leva a uma disfunção que pode ser primária, como nas doenças, lesões ou danos que afetam direta e seletivamente o cérebro, ou secundária, como nas doenças sistêmicas nas quais o cérebro é um dos múltiplos órgãos envolvidos.
Fazem parte desse grupo a demência na doença de Alzheimer g, a demência vascular, a síndrome amnésica orgânica (não-induzida por álcool ou psicotrópicos) e vários outros transtornos orgânicos (ansiedade), a síndrome pós-encefalite e pós-traumática, incluindo, também, a psicose orgânica e a psicose sintomática.

FATORES DE RISCO

Quadros de transtorno mental orgânico ou sintomático têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas:
• brometo de metila;
• chumbo e seus compostos tóxicos;
• manganês e seus compostos tóxicos;
• mercúrio e seus compostos tóxicos;
• sulfeto de carbono;
• tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos;
• tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos;
• outros solventes orgânicos neurotóxicos.

TRATAMENTO
O tratamento farmacológico: benzodiazepínicos para insônia e ansiedade, antidepressivos para depressão
e antipsicóticos para comportamento disruptivo. Pode estar indicado o uso de carbamazepina para controle da
impulsividade. Geralmente, há a indicação de aposentadoria por invalidez.

PREVENÇÃO
A prevenção do transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado relacionado ao trabalho consiste na vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde.

BIBLIOGRAFIA

BERTOLOTE, J. M. (Org.). Glossário de termos de psiquiatria e saúde mental da CID-10 e seus derivados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Tradução Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

SELIGMANN-SILVA, E. Psicopatologia e psicodinâmica no trabalho. In: MENDES, R. (Ed.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995, p. 287-310.

Thiago Greselle
NEURASTENIA (Inclui Síndrome de Fadiga)
Neurastenia é um transtorno psicológico usado pela primeira vez por George Miller Beard em 1869 para designar um quadro de exaustão física e psicológica, fraqueza, nervosismo e sensibilidade aumentada (principalmente irritabilidade e humor depressivo). Era um diagnóstico muito frequente no final do século XIX que desapareceu e foi revivido várias vezes durante o século XX sendo incluído no CID-10 pela OMS mas não pelo dicionário de saúde mental atual (DSM IV). Sua prevelência está entre 3 e 11% da população mundial, sendo tão comum em homens quanto em mulheres. Trata-se, em geral, de um quadro crônico.
A característica mais marcante da síndrome de fadiga relacionada ao trabalho* é a presença de fadiga constante, acumulada ao longo de meses ou anos em situações de trabalho em que não há oportunidade de se obter descanso necessário e suficiente.
EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA
Os fatores de risco de natureza ocupacional que parecem contribuir para o surgimento de um quadro de fadiga patológica são: ritmos de trabalho acelerados, sem pausas ou com pausas sem as devidas condições para repousar e relaxar; jornadas de trabalho prolongadas (excesso de horas extras, tempo de transporte de casa para o trabalho e do trabalho para casa muito longo, dupla jornada de trabalho para complementar a renda familiar) e jornada de trabalho em turnos alternados. A fadiga patológica parece ser decorrente da interação de diversos desses fatores entre si, ao longo de meses ou anos.
Nos Estados Unidos é também chamada de 'American nervousness' ou apenas 'Americanitis' por ser tratada como uma síndrome característica dos americanos.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
Deve-se perguntar a respeito da duração da jornada de trabalho, das condições de trabalho,
do descanso durante a jornada, do ritmo de trabalho, das condições do processo laboral, da pressão no trabalho, das condições de vida e habitacionais, visando a avaliar as condições de descanso
e lazer do trabalhador. Não esquecer que a síndrome de fadiga relacionada ao trabalho pode ser encontrada em
trabalhadores desempregados.
O diagnóstico definitivo baseia-se nos seguintes critérios:
• queixas persistentes e angustiantes de fadiga aumentada após esforço mental ou queixas persistentes
e angustiantes de fraqueza e exaustão corporal após esforço físico mínimo;
• pelo menos dois dos seguintes: sensação de dores musculares, tonturas, cefaléias tensionais,
perturbações do sono, incapacidade de relaxar, irritabilidade, dispepsia;
• paciente é incapaz de se recuperar por meio do descanso, relaxamento ou entretenimento;
• duração do transtorno de pelo menos três meses.
TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS
Pode estar indicada a prescrição de ansiolíticos como benzodiazepínicos, visando a controlar os sintomas mais proeminentes, como a insônia e a irritabilidade, atentando sempre para o risco de
desenvolvimento de tolerância e dependência desses. Deve-se ter como finalidade mudanças objetivas nas condições de trabalho e subjetivas às quais o trabalhador doente está submetido. A psicoterapia, visando a abordar as mudanças subjetivas em relação ao trabalho, pode ser útil.
PREVENÇÃO

A prevenção da síndrome de fadiga relacionada ao trabalho consiste na vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Requer uma
ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho.
A ocorrência de um caso de síndrome de fadiga relacionada ao trabalho deve ser considerada como evento sentinela, orientando a investigação do posto de trabalho e intervenções psicossociais de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio.

BIBLIOGRAFIA

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Tradução Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

SELIGMANN-SILVA, E. Psicopatologia e psicodinâmica no trabalho. In: MENDES, R. (Ed.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995, p. 287-310.
NEURASTENIA (Inclui Síndrome de Fadiga)
Neurastenia é um transtorno psicológico usado pela primeira vez por George Miller Beard em 1869 para designar um quadro de exaustão física e psicológica, fraqueza, nervosismo e sensibilidade aumentada (principalmente irritabilidade e humor depressivo). Era um diagnóstico muito frequente no final do século XIX que desapareceu e foi revivido várias vezes durante o século XX sendo incluído no CID-10 pela OMS mas não pelo dicionário de saúde mental atual (DSM IV). Sua prevelência está entre 3 e 11% da população mundial, sendo tão comum em homens quanto em mulheres. Trata-se, em geral, de um quadro crônico.
A característica mais marcante da síndrome de fadiga relacionada ao trabalho* é a presença de fadiga constante, acumulada ao longo de meses ou anos em situações de trabalho em que não há oportunidade de se obter descanso necessário e suficiente.
EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA
Os fatores de risco de natureza ocupacional que parecem contribuir para o surgimento de um quadro de fadiga patológica são: ritmos de trabalho acelerados, sem pausas ou com pausas sem as devidas condições para repousar e relaxar; jornadas de trabalho prolongadas (excesso de horas extras, tempo de transporte de casa para o trabalho e do trabalho para casa muito longo, dupla jornada de trabalho para complementar a renda familiar) e jornada de trabalho em turnos alternados. A fadiga patológica parece ser decorrente da interação de diversos desses fatores entre si, ao longo de meses ou anos.
Nos Estados Unidos é também chamada de 'American nervousness' ou apenas 'Americanitis' por ser tratada como uma síndrome característica dos americanos.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
Deve-se perguntar a respeito da duração da jornada de trabalho, das condições de trabalho,
do descanso durante a jornada, do ritmo de trabalho, das condições do processo laboral, da pressão no trabalho, das condições de vida e habitacionais, visando a avaliar as condições de descanso
e lazer do trabalhador. Não esquecer que a síndrome de fadiga relacionada ao trabalho pode ser encontrada em
trabalhadores desempregados.
O diagnóstico definitivo baseia-se nos seguintes critérios:
• queixas persistentes e angustiantes de fadiga aumentada após esforço mental ou queixas persistentes
e angustiantes de fraqueza e exaustão corporal após esforço físico mínimo;
• pelo menos dois dos seguintes: sensação de dores musculares, tonturas, cefaléias tensionais,
perturbações do sono, incapacidade de relaxar, irritabilidade, dispepsia;
• paciente é incapaz de se recuperar por meio do descanso, relaxamento ou entretenimento;
• duração do transtorno de pelo menos três meses.
TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS
Pode estar indicada a prescrição de ansiolíticos como benzodiazepínicos, visando a controlar os sintomas mais proeminentes, como a insônia e a irritabilidade, atentando sempre para o risco de
desenvolvimento de tolerância e dependência desses. Deve-se ter como finalidade mudanças objetivas nas condições de trabalho e subjetivas às quais o trabalhador doente está submetido. A psicoterapia, visando a abordar as mudanças subjetivas em relação ao trabalho, pode ser útil.
PREVENÇÃO

A prevenção da síndrome de fadiga relacionada ao trabalho consiste na vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Requer uma
ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho.
A ocorrência de um caso de síndrome de fadiga relacionada ao trabalho deve ser considerada como evento sentinela, orientando a investigação do posto de trabalho e intervenções psicossociais de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio.

BIBLIOGRAFIA

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Tradução Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

SELIGMANN-SILVA, E. Psicopatologia e psicodinâmica no trabalho. In: MENDES, R. (Ed.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995, p. 287-310.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estado de estresse pós-traumático CID 10 F43.1

Estado de estresse pós-traumático CID 10 F43.1

O que é?
O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais em decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando se recorda do fato, ele revive o episódio, como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais.

Importância...
O diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) surgiu pela primeira vez numa classificação psiquiátrica oficial em 1980, tendo sido estudado em vários países e populações. É um transtorno prevalente, crônico, incapacitante, resistente ao tratamento e pouco diagnosticado. Está associado a alcoolismo, suicídio, insatisfação no trabalho, absenteísmo e aposentadoria precoce.

Quais são os sintomas?
a) Reexperiência traumática: pensamentos recorrentes e intrusivos que remetem à lembrança do trauma, flashbacks, pesadelos;
b) Esquiva e isolamento social: a pessoa foge de situações, contatos e atividades que possam reavivar as lembranças dolorosas do trauma;
c) Hiperexcitabilidade psíquica e psicomotora: taquicardia, sudorese, tonturas, dor de cabeça, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, hipervigilância.

TEPT relacionado ao trabalho:
O TEPT é classificado como relacionado ao trabalho quando o trauma caracteriza-se como acidente de trabalho, que pode ser assim definido: "(...) é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa (...), provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária"; "(...) sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho, em conseqüência de ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho”.
Segundo o Manual de Manejo da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, em "trabalhadores que sofrem situações descritas na definição da doença, em circunstâncias de trabalho, o diagnóstico de TEPT, excluídas outras causas não ocupacionais, permite enquadrar esta doença no Grupo I da Classificação de Schilling, ou seja, o 'trabalho' ou a 'ocupação' desempenham o papel de 'causa necessária'. Sem eles, seria improvável que o trabalhador desenvolvesse esta doença”.
Além disso, o manual do Ministério da Saúde é enfático ao dizer que a prevenção do estado de estresse pós-traumático relacionado ao trabalho envolve uma complexa rede de medidas de prevenção de acidentes, segurança e promoção de condições de trabalho, incluindo condições organizacionais de trabalho que respeitem a subjetividade dos trabalhadores.
E nesses casos, indica-se a emissão da CAT(Comunicação de Acidente de Trabalho), pois este instrumento aciona a vigilância em saúde pública,já que é passo também importante para a prevenção primária.
Cabe alertar que o TEPT é um transtorno que tem sido cada vez mais freqüente nos contextos de trabalho e, infelizmente, não tem sido dada a ele a devida importância. Sua prevenção na maioria dos casos é possível, em princípio, melhorando as condições de trabalho, de forma a evitar situações potencialmente traumáticas e, eventualmente, criando um sistema de acolhimento ao trabalhador que se envolva em alguma dessas situações.

Referências:
01. Organização Mundial da Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.
02. Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). Regulamento dos benefícios da previdência social. Decreto nº 2172 de 05/03/1997.
03. Ministério da Saúde. Lista de doenças relacionadas ao trabalho. Brasília: Ministério da Saúde; 2000.
04. Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
TRANSTORNO ORGÂNICO DE PERSONALIDADE CID - 10 F07.0

1 IDENTIFICAÇÃO DA DOENÇA - DESCRIÇÃO
Transtorno orgânico de personalidade é conceituado como a alteração de personalidade e do comportamento que aparece como um transtorno conominante ou residual de uma doença, lesão ou disfunção cerebral. Caracteriza-se por uma alteração significativa dos padrões habituais do comportamento pré mórbido, particularmente no que se refere a expressão das emoções, necessidades e impulsos. As funções cognitivas podem estar comprometidas de modo particular ou mesmo exclusivo nas áreas do planejamento e antecipação das prováveis consequências pessoais e sociais, como se chama síndrome do lóbulo frontal, que pode ocorrer não apenas associada a lesão no lóbulo frontal, mas também a lesão de outras áreas cerebrais cincunscritas.

2 EPIDEMIOLOGIA - FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS

Quadros de transtorno orgânico de personalidade tem sido encontrado entre os efeitos da exposição ocupacional as seguintes substancias químicas tóxicas:
. Brometo de metila;
. Chumbo ou seus compostos tóxicos;
. Manganês e seus compostos tóxicos;
. Mercúrio e seus compostos tóxicos;
. Sulfeto de carbono;
. Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos
. Tricloroetileno, tetracloretileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos.
Em trabalhadores expostos a essas substancias químicas neurotóxicos, entre outras, o diagnóstico de transtorno orgânico de personalidade, excluídas outras causas não-ocupacionais, pode ser enquadrada no grupo primeiro da qualificação de schilling, em que o trabalho desempenhe o papel da causa necessária.

3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO

Além de uma história bem definida ou outra evidência de doença ou ainda disfunção cerebral, um diagnóstico definitivo requer a presença de dois ou mais dos seguintes aspectos:
. Capacidade consistentemente reduzida de perseverar em atividades com fins determinados, especialmente aquelas envolvendo períodos de tempo mais prolongados e gratificação postergada;
. Comportamento emocional alterado, caracterizado por labilidade emocional, alegria superficial e imotivada (euforia, jocosidade inadequada) e mudanças fáceis para irritabilidade, explosões rápidas de raiva e agressividade ou apatia;
. Expressão de necessidade e impulso sem considerar as consequências ou convenções sociais (roubo, propostas sensuais inadequadas, comer vorazmente ou mostrar descanso pela higiene pessoal);
. Pertubações cognitivas na forma de confiança, ideação paranoides e/ou por preocupações excessivas por um tema único, usualmente abstrato (por exemplo: religião certo e errado);
. Alteração mercante da velocidade e fluxo da produção de linguagem com aspectos, tais como circunstancialidade, prolixidade, viscosidade e hipergrafia;
. Comportamento sexual alterado.

TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS

Sendo o transtorno orgânico de personalidade relacionado ao trabalho uma sequela de disfunção ou lesão cerebral, o tratamento objetiva a reabilitação social, ou seja, diminuir os prejuízos advindos do comportamento pessoal e social alterado.
O tratamento farmacológico é sintomático: benzodiazepínicos para insônia e ausência, antidepressivos para depressão e antipsicóticos para comportamentos disruptivos. Pode estar indicando o uso de carbamazepina para controle da impulsividade.
Geralmente há a indicação de aposentadoria por invalidez e de medidas de reabilitação dirigidas para a socialização do paciente na família e na comunidade.

PREVENÇÃO

A prevenção do transtorno orgânico de personalidade relacionado ao trabalho consiste na vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos a saúde, conforme descrito na introdução desse capítulo.
Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho.
As medidas de controle ambiental visam á eliminação ou a redução dos níveis de exposição as substancias químicas envolvidas na gêneses da doença, por meio de :
. Enclausuramento de processo e isolamento de setores de trabalho, se possível utilizando sistema hermeticamente fechado;
. Normas de higiene e segurança rigorosa, incluindo sistema de ventilação exaustora adequados e eficientes;
. Monitoramento sistemático das concentrações no ar ambiente;
. Adoção de formas de organização do trabalho que permitam diminuir o numero de tralhadores expostos e o tempo de exposição;
. Medidas de limpeza geral dos ambientes do trabalho, de higiene pessoal, recursos para banho , lavagem das mão, braços, rosto e troca de vestuário;
. Fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual adequados, de modo complementar as medidas de proteção coletiva.
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na analise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer fatores que podem contribuir para o adoecimento, como, por exemplo:
. Conteúdo das tarefas, dos modos operatórios e dos postos de trabalho;
. Ritmo e intensidade do trabalho;
. Fatores mecânicos e condições físicas dos postos de trabalho e das normas de produção;
. Sistema de turnos;
. Sistema de premiação e incentivos;
. Fatores psicossociais e individuais;
. Relações de trabalho entre colegas e chefias;
. Medidas de proteção coletiva e individual implementadas pelas empresas;
. Estratégia de defesa, individual e coletiva, adotadas pelos trabalhadores.
A participação dos tralhadores e dos níveis gerenciais essencial para implementação das medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvam modificações na organização do trabalho. Práticas de promoção da saúde e de ambientes de trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção de uso de drogas, especialmente álcool.
Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho deve-se:
. Informar ao trabalhador;
. Examinar os aspectos expostos, visando a identificar outros casos;
. Notificar o caso aos sistemas de informação em saúde (epidemiológica, sanitária e/ou de saúde do trabalhador), por meio dos instrumentos próprios, á DRT-MTE e ao sindicato da categoria.

Bibliografia: TRATADO DE TOXICOLOGIA OCUPACIONAL, pg 307, Transtorno Orgânico de Personalidade.

EMILIANO VIESBA.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

EPISÓDIOS DEPRESSIVOS CID-10 F32.-

1 DEFINIÇÃO DA DOENÇA

Os episódios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas atividades
cotidianas, sendo comum uma sensação de fadiga aumentada. O paciente pode se queixar de dificuldade de concentração, pode apresentar baixa auto-estima e autoconfiança, desesperança, idéias de culpa e inutilidade; visões pessimistas do futuro, idéias suicidas. O sono encontra-se perturbado, geralmente por insônia terminal. O paciente se queixa de diminuição do apetite, geralmente com perda de peso. Sintomas de ansiedade são muito freqüentes. A angústia tende a ser tipicamente mais intensa pela manhã. As alterações da psicomotricidade podem variar da lentificação à agitação.

2 EPIDEMIOLOGIA

A relação dos episódios depressivos com o trabalho pode ser sutil. As decepções sucessivas em situações de trabalho frustrantes, as perdas acumuladas ao longo dos anos de trabalho, as exigências excessivas de desempenho cada vez maior, no trabalho, geradas pelo excesso de competição, implicando ameaça permanente de perda do lugar que o trabalhador ocupa na hierarquia da empresa, perda do posto de trabalho e demissão podem determinar depressões mais ou menos graves. Alguns estudos comparativos controlados têm mostrado prevalências maiores de depressão em digitadores, operadores de computadores, datilógrafos, advogados, educadores especiais e consultores.
Episódios depressivos também estão associados à exposição ocupacional a algumas substâncias
químicas tóxicas. Em trabalhadores expostos a essas substâncias químicas neurotóxicas, o diagnóstico de episódios depressivos, excluídas outras causas não-ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho desempenha o papel de causa necessária.
Assim, sempre que ficar caracterizada uma síndrome depressiva e houver história ocupacional de exposição a substâncias tóxicas, deve-se investigar a coexistência de um transtorno mental orgânico.

3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de episódio depressivo requer a presença de pelo menos cinco dos sintomas abaixo, por um período de, no mínimo, duas semanas, sendo que um dos sintomas característicos é humor triste ou diminuição do interesse ou prazer, além de:
marcante perda de interesse ou prazer em atividades que normalmente são agradáveis;
diminuição ou aumento do apetite com perda ou ganho de peso (5% ou mais do peso corporal, no
último mês);
insônia ou hipersonia;
agitação ou retardo psicomotor;
fadiga ou perda da energia;
sentimentos de desesperança, culpa excessiva ou inadequada;
diminuição da capacidade de pensar e de se concentrar ou indecisão;
pensamentos recorrentes de morte (sem ser apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem
um plano específico ou uma tentativa de suicídio ou um plano específico de suicídio.

4 TRATAMENTO

A prescrição dos recursos terapêuticos disponíveis depende da gravidade e da especificidade de cada
caso, entretanto é consenso em psiquiatria que o tratamento de episódios depressivos envolva:
- PSICOTERAPIA: está indicada mesmo quando são prescritos psicofármacos, pois o tratamento de episódio depressivo tende a se estender por um período de pelo menos seis meses, em que o paciente se encontra fragilizado e necessitando de suporte emocional;
- TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: a prescrição de antidepressivos está indicada dependendo da gravidade do quadro depressivo. Freqüentemente estão indicados os benzodiazepínicos para controle de sintomas ansiosos e da insônia no início do tratamento, pois o efeito terapêutico dos antidepressivos tem início, em média, após duas semanas de uso;
- INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS: uma das características centrais do episódio depressivo é o desânimo para as atividades cotidianas em que o trabalho está incluído.Portanto, muitas vezes a capacidade de trabalhar fica muito comprometida, impedindo o sujeito de cumprir seus compromissos ocupacionais. Muitas vezes, faltas ao trabalho não-justificadas são a primeira manifestação. Quando o episódio depressivo é relacionado ao trabalho, esse comprometimento pode ser mais precoce e mais evidente, uma vez que os fatores afetivos envolvidos na depressão estão no trabalho.

5 PREVENÇÃO

A prevenção dos episódios depressivos relacionados ao trabalho consiste, basicamente, na vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na introdução deste capítulo.
As medidas de controle ambiental visam à eliminação ou à redução da exposição a substâncias químicas envolvidas na gênese da doença, por meio de:
enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalho, se possível, utilizando sistemas
hermeticamente fechados;
normas de higiene e segurança rigorosas, incluindo sistemas de ventilação exaustora adequados e
eficientes;
monitoramento sistemático das concentrações no ar ambiente;
adoção de formas de organização do trabalho que permitam diminuir o número de trabalhadores expostos
e o tempo de exposição;
medidas de limpeza geral dos ambientes de trabalho, de higiene pessoal, recursos para banhos, lavagem
das mãos, braços, rosto e troca de vestuário;
fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual adequados, de modo
complementar às medidas de proteção coletiva.
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da
atividade, buscando conhecer, entre outros fatores:
conteúdo das tarefas, dos modos operatórios e dos postos de trabalho;
ritmo e intensidade do trabalho;
fatores mecânicos e condições físicas dos postos de trabalho e das normas de produção;
sistemas de turnos;
sistemas de premiação e incentivos;
fatores psicossociais e individuais;
relações de trabalho entre colegas e chefias;
medidas de proteção coletiva e individual implementadas pelas empresas;
as estratégias individuais e coletivas adotadas pelos trabalhadores.
O episódio depressivo relacionado ao trabalho caracteriza-se pela perda do convívio no trabalho: perda do emprego, perda de posição na hierarquia, frustração de aspirações relacionadas ao trabalho e à carreira, lembrando que a inserção pelo trabalho é uma dimensão humana fundamental na nossa sociedade. A prevenção das depressões relacionadas ao trabalho é, portanto, também de ordem ética. O exemplo clássico da relação entre depressão e ordem econômica é o do
desemprego de longa duração.
Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho, deve-se:
informar ao trabalhador;
examinar os expostos, visando a identificar outros casos;
notificar o caso aos sistemas de informação em saúde (epidemiológica, sanitária e/ou de saúde do
trabalhador), por meio dos instrumentos próprios, à DRT/MTE e ao sindicato da categoria;
providenciar a emissão da CAT, caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social,
conforme descrito no capítulo 5;
orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação
ou controle dos fatores de risco;
acompanhar o retorno do trabalhador ao trabalho, seja na mesma atividade com modificações ou
restrições, seja para outra atividade, o que é importante para garantir que não haja progressão, recidivas
ou agravamento do quadro.



6 BIBLIOGRAFIA E LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIDAS
BERTOLOTE, J. M. (Org.). Glossário de termos de psiquiatria e saúde mental da CID-10 e seus derivados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
JARDIM, S. Perícia, trabalho e doença mental. 3. ed. ampl. [S. l.]: IPVB, 1997 (cadernos do IPVB, n. 2).
JARDIM, S. O trabalho e a construção do sujeito. In: SILVA FILHO, J. F. (Org). A danação do trabalho. Rio de Janeiro: Te Corá, 1997, p. 79-87.
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
MORREL, S. et al. Um estudo de coorte de desemprego como causa de distúrbios psicológicos da juventude australiana. Resenha de
NEVES, M. Y. R. J. Bras. Psiq., v. 45, n. 8, p. 505-510, 1996.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e
diretrizes diagnósticas. Tradução Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
REY, L. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
SELIGMANN-SILVA, E. A interface desemprego prolongado e saúde psicossocial. In: SILVA FILHO, J. F. (Org) A danação do trabalho.
Rio de Janeiro: Te Corá, 1997, p. 19-63.
______. Psicopatologia e psicodinâmica no trabalho. In: MENDES, R. (Ed.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995, p. 287-310.




Luiz Affonso Pensin

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ALCOOLISMO CRÔNICO RELACIONADO AO TRABALHO CID-10 F10.2

Definição da doença

Alcoolismo refere-se a um modo crônico e continuado de usar bebidas alcoólicas, caracterizado pelo descontrole periódico da ingestão ou por um padrão de consumo de álcool com episódios freqüentes de intoxicação e preocupação com o álcool e o seu uso, apesar das conseqüências adversas desse comportamento para a vida e saúde do usuário. A Sociedade Americana das Dependências, em 1990, considerou o alcoolismo como uma doença crônica primária, que tem seu desenvolvimento e manifestações influenciados por fatores genéticos, psicossociais e ambientais, freqüentemente progressiva e fatal. A perturbação do controle de ingestão de álcool caracteriza-se por ser contínua ou periódica, e por distorções do pensamento, caracteristicamente a negação, isto é, o bebedor alcoólico tende a não reconhecer que faz uso abusivo do álcool. O trabalho é considerado entre os fatores psicossociais de risco capazes de influenciar no desenvolvimento do quadro e nas suas manifestações.

Epidemiologia/Fatores de risco de natureza ocupacional conhecidos

O consumo coletivo de bebidas alcoólicas associado a situações de trabalho tem um aspecto de prática defensiva, enquanto um meio de garantir pertencimento ao grupo. Também, pode ser uma forma de viabilizar o próprio trabalho, em decorrência dos efeitos farmacológicos próprios do álcool: calmante, euforizante, estimulante, relaxante, indutor do sono, anestésico e antisséptico. Entretanto, essas situações não são suficientes para caracterizar o uso patológico de bebidas alcoólicas.

Uma freqüência maior de casos (individuais) de alcoolismo tem sido observada em determinadas ocupações, especialmente aquelas que se caracterizam por serem socialmente desprestigiadas e mesmo determinantes de certa rejeição como as que implicam contato com cadáveres, lixo ou dejetos em geral, apreensão e sacrifício de cães; atividades em que a tensão é constante e elevada como nas situações de trabalho perigoso (transportes coletivos, estabelecimentos bancários, construção civil), de grande densidade de atividade mental (repartições públicas, estabelecimentos bancários e comerciais), de trabalho monótono, que gera tédio, trabalhos em que a pessoa trabalha em isolamento do convívio humano (vigias); situações de trabalho que envolvem afastamento prolongado do lar (viagens freqüentes, plataformas marítimas, zonas de mineração).

Havendo evidências epidemiológicas de excesso de prevalência de alcoolismo crônico em determinados grupos ocupacionais, sua ocorrência em trabalhadores destes grupos ocupacionais poderá ser classificada como “doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling. O trabalho pode ser considerado como fator de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia multicausal do alcoolismo crônico.

Em casos particulares de trabalhadores previamente alcoólicos, circunstâncias poderiam eventualmente desencadear, agravar ou contribuir para a recidiva da doença, o que levaria a enquadrá-la no Grupo III da Classificação de Schilling.

Quadro clínico e diagnóstico

Os critérios diagnósticos podem ser adaptados daqueles previstos para a caracterização das demais síndromes de dependência, segundo os quais, três ou mais manifestações devem ter ocorrido, conjuntamente, por pelo menos um mês, ou se persistentes, por períodos menores do que um mês. As manifestações devem ocorrer juntas, de forma repetida durante um período de 12 meses, devendo ser explicitada a relação da ocorrência com a situação de trabalho:

· um forte desejo ou compulsão de consumir álcool em situações de forte tensão presente ou gerada pelo trabalho;

· comprometimento da capacidade de controlar o comportamento de uso da substância em termos de seu início, término ou níveis, evidenciado pelo uso da substância em quantidades maiores, ou por um período mais longo que o pretendido, ou por um desejo persistente ou esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o seu uso;

· um estado fisiológico de abstinência quando o uso do álcool é reduzido ou interrompido;

· evidência de tolerância aos efeitos da substância de forma que há uma necessidade de quantidades crescentes da substância para obter o efeito desejado;

· preocupação com o uso da substância, manifestada pela redução ou abandono de importantes prazeres ou interesses alternativos por causa de seu uso ou pelo gasto de uma grande quantidade de tempo em atividades necessárias para obter, consumir ou recuperar-se dos efeitos da ingestão da substância; e

· uso persistente da substância, a despeito das evidências das suas conseqüências nocivas e da consciência do indivíduo a respeito do problema.

Tratamento e outras condutas

O tratamento do alcoolismo crônico envolve múltiplas estratégias terapêuticas que implicam, muitas vezes, em mudanças na situação de trabalho. O prognóstico difícil pode desanimar as equipes de saúde com relação ao tratamento dos alcoólatras. Apesar de alguns clínicos e grupos proporem a opção de “beber controlado”, a maioria dos especialistas e dos estudos indicam que a abstinência completa de álcool é a pedra angular do tratamento. A maioria das pessoas com transtornos relacionados ao álcool busca tratamento pressionada por alguém da família (a esposa, geralmente) ou por um empregador, chefe ou amigo. Os pacientes que são persuadidos, encorajados ou mesmo coagidos ao tratamento por pessoas significativas para eles estão mais aptos a permanecer em tratamento e têm um prognóstico melhor do que os não pressionados. O melhor prognóstico está associado à busca voluntária de um profissional de saúde mental em virtude da pessoa ter concluído que é alcoólatra e que necessita de ajuda. Assim, a disponibilidade dos profissionais e dos serviços de saúde para atender os trabalhadores alcoólatras é uma das primeiras estratégias do tratamento.

As estratégias de tratamento do alcoolismo crônico incluem:

· psicoterapia

· tratamento farmacológico: tanto os ansiolíticos como os antidepressivos estão indicados;

· grupos de mútua ajuda (Alcoólicos Anônimos – o AA e o Al-Anon – Grupos Anônimos de familiares de Alcoólicos); e

· recursos de centros de atenção diária: após uma internação hospitalar, o retorno ao lar e à comunidade, requer medidas de suporte emocional, orientação e reabilitação psicossocial progressiva que podem ser disponibilizados por serviços de saúde mental tipo Centros de Atenção Diária.

Prevenção

Ações de prevenção do Alcoolismo que se limitam à realização de cursos e palestras com a finalidade de procurar transmitir conhecimentos científicos e aconselhamento sobre as ações prejudiciais do álcool sobre o organismo são freqüentemente inócuos. De modo geral, só alcançam resultados positivos os programas que identificam, nas situações de trabalho e do cotidiano da vida, os aspectos organizacionais e ambientais relacionados ao “risco alcoólico”, procurando implementar ações para transformá-los, como por exemplo:

· práticas de supervisão e chefia direta em que a dignidade e a valorização do trabalhador são considerados com especial atenção nas situações de trabalho socialmente desprestigiadas;

· fornecimento de equipamentos adequados, disponibilidade de chuveiros e material para a higiene pessoal (inclusive trocas suficientes de roupa);

· desenvolvimento de estratégias de redução das situações de exposição às ameaças como agressão armada e ira popular, com a participação dos próprios trabalhadores no desenvolvimento de tais estratégias;

· disponibilidade de pausas em ambientes agradáveis e confortáveis, visando alívio da tensão;

· disponibilidade de meios de comunicação e de interação com outras pessoas durante a jornada de trabalho nas situações de trabalho em isolamento; e

· redução e controle dos níveis de ruído e de vibração nos ambientes de trabalho. (Muitas vezes os trabalhadores usam o álcool como hipnótico após trabalharem em ambientes ruidosos e com vibração. O exemplo clássico são os motoristas de ônibus).

Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:

· informação aos trabalhadores;

· exame dos expostos visando identificar outros casos;

· notificação do caso ao sistema de informação em saúde;

· caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social, providenciar emissão da CAT; e

· orientação ao empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação ou controle dos fatores de risco.

Leitura Recomendada:

ANDRÉ, L.M. – Heróis da lama: sobrecarga emocional e estratégias defensivas no trabalho de limpeza pública. São Paulo, 1994. [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública da USP].

BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.

FERREIRA Jr., Y.M. - Alcoolismo e trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 18(70): 50-2, 1990.

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.

LIMA, C.T.S. – Alcoolismo e doenças associadas. Um estudo de coorte em trabalhadores de uma refinaria de petróleo. Salvador, 1995. [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Medicina da UFBa].