terça-feira, 17 de abril de 2012


CASO CLÍNICO: LOMBALGIA 

ANAMNESE:

Identificação: P.G.M, 35 anos, trabalha em escritório, caucasiano, casado, natural e procedente de Tubarão.

QP: “Dor nas costas”

HDA: Paciente relata dor lombar de caráter contínuo, de início agudo, com aproximadamente 1 mês de evolução, bem localizada na região inferior da coluna lombar e sem irradiação, com agravamento progressivo. Refere melhora com o repouso e piora com os movimentos. Nega perda de peso, febre, astenia e alterações neurológicas como parestesias e paresias.Não faz atividade física. Relata problemas com colega de trabalho.

HMP: Apendicectomia há 18 anos.

HFSP: Tabagista 1 carteira ao dia há 10 anos. Nega etilismo.

EXAME FÍSICO:

ECTOSCOPIA: BEG, normocorado, hidratado, eupnéico, anictérico, acianótico.
PA: 130/80 mmHg (MSD e MSE)
FC : 74 bpm                      FR: 16 ipm
Peso: 82 kg                      Alt: 1,74 m                          IMC: 27
CP: Tiróide não palpável. Carótida sem sopros. Sem linfonodomegalia.
AP: Tórax simétrico, sem abaulamentos ou retrações, MVDB, sem ruídos adventícios bilateralmente.
AC: BCNF 2T sem sopros.
ABD: Globoso, flácido, RHA presentes, difusos globalmente, sem visceromegalias.
Coluna Lombar: Dor à compressão na região lombar, presença de contratura para-vertebral e dor com limitação de todos os movimentos da coluna lombar.
Lasegue negativo.
Exame neurológico sem alterações.
MMSS e MMII: Sem edema, sem sinais flogísticos, pulsos pediosos simétricos e articulações sem sinais flogísticos.

Exames complementares:

Hemograma: Ht 42 Hb 14
Plaquetas: 320.000
VHS: 5mm/hora
RX de coluna lombrar: sem alterações.

Lombalgia:

A etiologia da lombalgia ocupacional  é multifatorial, as profissões em geral com uma grande sobrecarga física, somada a uma postura inadequada ao esforço, expõe mais facilmente o trabalhador à lesões. Dentre os fatores de risco pessoais, podemos destacar a idade, sexo, peso corporal, altura, discrepância entre os membros inferiores, alcoolismo, tabagismo, abuso de drogas, nível de escolaridade, stress, depressão. Destacam-se entre os fatores de risco ocupacionais o trabalho repetitivo, trabalhar longos períodos de tempo assentado, grau de satisfação no trabalho, anos de emprego em determinada área, ações de empurrar e puxar, quedas, posturas de trabalho estáticas, tarefas onde há vibração em todo o corpo, movimentos freqüentes de flexão e rotação do tronco.
Na lombalgia comum (a forma mais prevalente), na maioria dos casos, se limita à região lombar e nádegas. Raramente se irradia para as coxas. Pode aparecer subitamente pela manhã e apresentar-se acompanhada de escoliose antálgica.

Tratamento

Repouso: por curto período (2-3 dias), tentando retornar as atividades usuais o mais rapidamente possível.
Acetaminofen (paracetamol) , Aines, relaxantes musculares.
Exercícios aeróbicos e de fortalecimento da musculatura paravertebral.
Fisioterapia.
Melhora na postura no local de trabalho, ginástica aboral (alongamentos).

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Caso Clinico - Sd do Impacto

Caso clinico SINDROME DO IMPACTO

I: LZX, 50 anos, feminina, casada, 2 filhos, professora do ensino publico, procedente de Tubarão.
QP: Dor no ombro e perda da forca
HDA: Paciente relata que ha 10 meses vem sentindo dor a elevação do ombro direito. Inicialmente a dor melhorava com a imobilização do ombro e uso de AINES. Refere que a dor vem se agravando tendo que fazer uso de Tramadol + Paracetamol. Ha 1 mes notou diminuição da forca, incapacitando-a no seu trabalho e por isso buscou atendimento medico.
ISDAS: Relata cervicalgia e cansaço de inicio ha +- 1 mes. Relata ter rinite pelo po' do giz. Nega alteracao do TGU e TGI. Nega alteracao do apetite.
HMP: Histerectomia ha 20 anos.
HMF: Mae com HAS. Pai faleceu aos 86 anos de IAM.
HFSP: Braco dominante: direito
            Relata rinite pelo po' do giz.
            Nao tabagista. Refere etilismo social, 3 latas de cerveja aos finais de semana.
            Nega DM. Nega HAS.
EXAME FISICO:
            BEG, LOC, MUC, AAA. Ausencia de linfonodomegalia.
            PA:130x80mmHg             FC: 72bpm
            Peso: 70kg                         Estatura: 1,70kg              IMC: 24,22kg/m2
            AC: RcR, 2T, BnF, SSA.
            AP: MV+, bilateralmente. SRA
            Abd: flácido, inocente, sem massas ou visceromegalias.
            MMII: panturrilhas livres, pulsos pediosos preservados.
EXAME FISICO DO OMBRO:
            Presenca de atrofia da musculatura do manguito a direita
            Palpação dolorosa da entese do supra-espinhal.
            Teste de Neer +
            Teste de Hawkins +
            Teste de Jobe + a direita
            Teste de Patte -
            Teste de Gerber -
            Rotacao externa -

HIPOTESE DIAGNOSTICA: Lesão do manguito rotador

CONDUTA: Solicitado Artroscopia de ombro para confirmação diagnostica e tratamento se necessário.






segunda-feira, 2 de abril de 2012

Nexo Causal - Cap 2


A INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES SAÚDE-TRABALHO, O ESTABELECIMENTO DO NEXO CAUSAL DA DOENÇA COM O TRABALHO E AS AÇÕES DECORRENTES


O reconhecimento do papel do trabalho na determinação e evolução do processo saúde-doença dos trabalhadores tem implicações éticas, técnicas e legais, que se refletem sobre a organização e o provimento de ações de saúde para esse segmento da população, na rede de serviços de saúde.
O estabelecimento da relação causal ou do nexo entre um determinado evento de saúde – dano ou doença – individual ou coletivo, potencial ou instalado, e uma dada condição de trabalho constitui a condição básica para a implementação das ações de Saúde do Trabalhador nos serviços de saúde. De modo esquemático, esse processo pode se iniciar pela identificação e controle dos fatores de risco para a saúde presentes nos ambientes e condições de trabalho e/ou a partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos, lesões ou doenças provocados pelo trabalho, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores.


1)    O ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO
           
Os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho, como conseqüência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte dos trabalhadores resultará da amalgamação desses fatores, que podem ser sintetizados em quatro grupos de causas:
- doenças comuns, aparentemente sem qualquer relação com o trabalho;
-doenças comuns (crônico-degenerativas, infecciosas, neoplásicas, traumáticas, etc.) eventualmente modificadas no aumento da freqüência de sua ocorrência ou na precocidade de seu surgimento
- doenças comuns que têm o espectro de sua etiologia ampliado ou tornado mais complexo pelo trabalho.
- agravos à saúde específicos, tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças profissionais.

Os três últimos grupos constituem a família das doenças relacionadas ao trabalho. A natureza dessa relação é sutilmente distinta em cada grupo. Classificação proposta por Schiling:
            Grupo I: doenças em que o trabalho é causa necessária. (Ex: intoxicação por chumbo, silicose, doenças profissionais legalmente reconhecidas.)
            Grupo II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco. (Ex: doença coronariana, doença do aparelho locomotor, câncer, varizes de mmii.)
Grupo III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa, tipificadas pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em determinados grupos ocupacionais ou profissões.(Ex: bronquite crônica, dermatite de contato alérgica, asma, doenças mentais.)

O grupo I apresenta uma conceituação legal e sua ocorrência deve ser notificada. O grupo II e III é formado por doenças de etiologia múltipla ou causadas por múltiplos fatores de risco, portanto, a caracterização etiológica ou nexo causal será essencialmente de natureza epidemiológica, pela freqüência em determinados grupos ocupacionais, por exemplo.

Os fatores de risco, podem ser divididos principalmente em 5 grandes grupo, são eles:
- FÍSICOS: ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas (frio e calor), pressão atmosférica anormal, entre outros;
- QUÍMICOs: agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho (ver a coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho);
- BIOLÓGICOS: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária (ver a coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho).
- ERGONÔMICOS E PSICOSSOCIAIS: decorrem da organização e gestão do trabalho, como, por exemplo: da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliário inadequados, levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más condições de iluminação, ventilação e de conforto para os trabalhadores; trabalho em turnos e noturno; monotonia ou ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros;
- MECÂNICOS E DE ACIDENTES: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produtos e outros que podem levar a acidentes do trabalho
.

2)    RECURSOS E INSTRUMENTOS PARA A INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES SAÚDE-TRABALHO-DOENÇA

            No âmbito dos serviços de saúde, o principal instrumento para a investigação das relações saúde-trabalho-doença e, portanto, para o diagnóstico correto do dano para a saúde e da relação etiológica com o trabalho, é representado pela anamnese ocupacional. A anamnese ocupacional faz parte da entrevista médica, que compreende a história clínica atual, a investigação sobre os diversos sistemas ou aparelhos, os antecedentes pessoais e familiares, a história ocupacional, hábitos e estilo de vida, o exame físico e a propedêutica complementar.
A realização da anamnese ocupacional deve estar incorporada à entrevista clínica e seguir uma sistematização para que nenhum aspecto relevante seja esquecido, por meio de algumas perguntas básicas: o que faz? Como faz? Com que produtos e instrumentos? Quanto faz? Onde? Em que condições? Há quanto tempo? Como se sente e o que pensa sobre seu trabalho? Conhece outros trabalhadores com problemas semelhantes aos seus? Assim é possível se ter uma idéia das condições de trabalho e de suas repercussões sobre a saúde do trabalhador.
Igual importância deve ser dada às ocupações anteriores desempenhadas pelo trabalhador, particularmente aquelas às quais o trabalhador dedicou mais tempo ou que envolveram situações de maior risco para a saúde.


3)    O ESTABELECIMENTO DA RELAÇÃO CAUSAL ENTRE O DANO OU DOENÇA E O TRABALHO

            Segundo Desoille, Scherrer &Truhaut (1975), a comprovação da relação doença-trabalho deve basear-se em “argumentos que permitam a sua presunção, sem a existência de prova absoluta”.
           
Os questionamentos devem ser específicos para cada trabalhador, sendo a resposta positiva à maioria das questões apresentadas a seguir auxilia no estabelecimento de relação etiológica ou nexo causal entre doença e trabalho:
- natureza da exposição: o agente patogênico pode ser identificado pela história ocupacional e/ou pelas informações colhidas no local de trabalho e/ou de pessoas familiarizadas com o ambiente ou local de trabalho do trabalhador?
- especificidade da relação causal e a força da associação causal: o agente patogênico ou o fator de risco pode estar contribuindo significativamente entre os fatores causais da doença?
- tipo de relação causal com o trabalho: de acordo com a Classificação de Schilling, o trabalho é considerado causa necessária (Tipo I)? Fator de risco contributivo de doença de etiologia multicausal (Tipo II)? Fator desencadeante ou agravante de doença preexistente (Tipo III)? No caso de doenças relacionadas ao trabalho, do tipo II, as outras causas, não-ocupacionais, foram devidamente analisadas
e hierarquicamente consideradas em relação às causas de natureza ocupacional?
- grau ou intensidade da exposição: é compatível com a produção da doença?
- tempo de exposição: é suficiente para produzir a doença?
- tempo de latência: é suficiente para que a doença se instale e manifeste?
- registros anteriores: existem registros quanto ao estado anterior de saúde do trabalhador? Em caso positivo, esses contribuem para o estabelecimento da relação causal entre o estado atual e o trabalho?
- evidências epidemiológicas: existem evidências epidemiológicas que reforçam a hipótese de relação
causal entre a doença e o trabalho presente ou pregresso do segurado?
           
A identificação ou comprovação de efeitos da exposição ocupacional a fatores ou situações de risco, particularmente em suas fases mais precoces, pode exigir a realização de exames complementares específicos: toxicológicos, eletromiográficos, de imagem, clínicos especializados, provas funcionais respiratórias, audiometria, entre outros. A monitorização biológica de trabalhadores expostos a substâncias químicas potencialmente lesivas para a saúde, por meio da realização de exames toxicológicos, é importante para os procedimentos de vigilância.
           
Para a comprovação diagnóstica e estabelecimento da relação da doença com o trabalho, podem ser necessárias informações complementares sobre os fatores de risco, identificados a partir da entrevista com o paciente. No caso de trabalhadores empregados, essas informações poderão ser solicitadas ao empregador, como os registros de estudos e levantamentos ambientais, qualitativos ou quantitativos, contidos no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), feito por exigência da NR 9, da Portaria/MTb n.º 3.214/1978. Também podem ser úteis os resultados de avaliações clínicas e laboratoriais realizadas para o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), em cumprimento da NR 7, da mesma portaria referida anteriormente, e registros de fiscalizações realizadas pelo poder público.
           
Na grande maioria dos casos, o profissional da saúde tem dificuldade para conseguir as informações necessárias devido ao não cumprimento da legislação pelo empregador. Nesses casos, o médicos deve aprofundar a sua curiosidade e identificar os fatores de risco ou causais para a doença. As principais dificuldades para o estabelecimento do nexo ou da relação trabalho-doença são:
- ausência ou imprecisão na identificação de fatores de risco e/ou situações a que o trabalhador está ou esteve exposto, potencialmente lesivas para sua saúde;
- ausência ou imprecisão na caracterização do potencial de risco da exposição;
            - conhecimento insuficiente quanto aos efeitos para a saúde associados com a exposição em questão;
- desconhecimento ou não-valorização de aspectos da história de exposição e da clínica, já descritos como associados ou sugestivos de doença ocupacional ou relacionada ao trabalho;
- necessidade de métodos propedêuticos e abordagens por equipes multiprofissionais, nem sempre disponíveis nos serviços de saúde.
É importante lembrar que, apesar da importância da abordagem multiprofissional para a atenção à saúde do trabalhador, o estabelecimento da relação causal ou nexo técnico entre a doença e o trabalho é de responsabilidade do médico, que deverá estar capacitado para fazê-lo.

4)    AÇÕES DECORRENTES DO DIAGNÓSTICO DE UMA DOENÇA OU DANO RELACIONADO AO TRABALHO

            Uma vez estabelecida a relação causal ou nexo entre a doença e o trabalho desempenhado pelo trabalhador, o profissional ou a equipe responsável pelo atendimento deverá assegurar:
- a orientação ao trabalhador e aos seus familiares, quanto ao seu problema de saúde e os encaminhamentos necessários para a recuperação da saúde e melhoria da qualidade de vida;
- afastamento do trabalho ou da exposição ocupacional;
- o estabelecimento da terapêutica adequada, incluindo os procedimentos de reabilitação;
- emissão da CAT para o INSS, responsabilizando-se pelo preenchimento do
Laudo de Exame Médico (LEM);
- notificação à autoridade sanitária de acordo com a legislação.
A decisão quanto ao afastamento do trabalho é difícil, exigindo que inúmeras variáveis de caráter médico e social sejam consideradas:
- os casos com incapacidade total e/ou temporária devem ser afastados do trabalho até melhora clínica, ou mudança da função e afastamento da situação de risco;
- no caso do trabalhador ser mantido em atividade, devem ser identificadas as alternativas compatíveis com as limitações do paciente e consideradas sem risco de interferência na evolução de seu quadro de saúde;
- quando o dano apresentado é pequeno, ou existem atividades compatíveis com as limitações do paciente e consideradas sem risco de agravamento de seu quadro de saúde, ele pode ser remanejado para outra atividade, em tempo parcial ou total, de acordo com seu estado de saúde;
- quando houver necessidade de afastar o paciente do trabalho e/ou de sua atividade habitual, o médico deve emitir relatório justificando as razões do afastamento, encaminhando-o ao médico da empresa, ou ao responsável pelo PCMSO. Se houver indícios de exposição de outros trabalhadores, o fato deverá ser comunicado à empresa e solicitadas providências corretivas.
Atenção especial deve ser dada à decisão quanto ao retorno ao trabalho. É importante avaliar se a empresa ou a instituição oferece programa de retorno ao trabalho, com oferta de atividades compatíveis com a formação e a função do trabalhador, que respeite suas eventuais limitações em relação ao estágio pré-lesão e prepare colegas e chefias para apoiar o trabalhador na nova situação, alargando a concepção de capacidade para o trabalho adotada na empresa, de modo a evitar a exclusão do trabalhador no seu local de trabalho.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Bases técnicas para o controle dos fatores de risco e para a melhoria dos ambientes e das condições de trabalho

Atualmente a melhoria das condições dos ambientes de trabalho tem sido alvo intensos investimentos a fim de reduzir ou em alguns casos de eliminar a exposição de risco do trabalhador. Muitas vezes medidas simples e pouco onerosa contribuem de maneira significativa para a saúde do trabalhador.


O controle das condições de risco para a saúde e melhoria dos ambientes de trabalho envolve as seguintes etapas:
- Identificação das condições de risco para a saúde presentes no trabalho;
- Caracterização da exposição e quantificação das condições de risco;
- Discussão e definição das alternativas de eliminação ou controle das condições de risco;
- Implementação e avaliação das medidas adotadas.

A preocupação com o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores vem aumentando, corroborando a idéia de buscar mudanças de processos de trabalho potencialmente lesivos para a saúde das populações e o ambiente.

Identificação e Avaliação das Condições de Risco
Identificar fatores ou situações que exponha o trabalhador a possibilidade de um efeito adverso ou dano e a incerteza da ocorrência. Circustâncias que apresentam um potencial lesivo dentre os efeitos podem ser: morte, lesões, doenças ou danos à saúde. Além disso segundo a sua natureza podem ser classificados em:

Ambiental:
- físico: alguma forma de energia: radiação, ruído, vibração, etc.;
- químico: substâncias químicas, poeiras, etc.;
- biológico: bactérias, vírus, fungos, etc.;
Situacional: instalações, ferramentas, equipamentos, materiais, operações, etc.;
Humano ou comportamental: decorrentes da ação ou omissão humana.

Após identificar os agentes e condições de risco é fundamental estabelecer prioridades estimar a gravidade quanto a exposição ao fator de risco. Assim, o conhecimento disponível sobre os riscos potenciais que ocorrem em determinada situação de trabalho deve ser acompanhado de uma observação cuidadosa in loco das condições reais de exposição dos trabalhadores.

Deve ser lembrado que existe uma diferença entre a capacidade que tem um agente para causar dano e a possibilidade de que este agente cause dano. O potencial intrínseco de um agente tóxico para lesar a saúde só se concretiza se houver condições para que isso ocorra. O fato de que o agente de risco não estar oferecendo danos no momento, não significa que assim será no futuro.

Produtos vendidos sob nomes comerciais, sem informação detalhada quanto à composição química, geralmente criam problemas para o reconhecimento de riscos. Tais informações devem ser exigidas dos fabricantes e fornecedores. Outro aspecto importante da toxicidade das substâncias químicas refere-se às suas propriedades físicas.

Outro risco, às vezes esquecido, ocorre pela falta de oxigênio que potencialmente pode levar rapidamente à morte. A exposição aos agentes biológicos está geralmente associada ao trabalho em hospitais, laboratórios de análises clínicas e atividades agropecuárias, porém pode ocorrer, também, em outros locais. Os agentes biológicos incluem vírus, bactérias, riquétsias*, protozoários e fungos e seus esporos.

Os danos causados relacionados à organização do trabalho, considerados nos riscos ergonômicos, podem ser identificados em diversas atividades. Entre as conseqüências destacam-se os problemas osteomusculares e o adoecimento mental relacionados ao trabalho.

A exigência de maior produtividade associada à redução contínua do contingente de trabalhadores, à pressão do tempo e ao aumento da complexidade das tarefas, além de expectativas irrealizáveis e as relações de trabalho tensas e precárias, constituem fatores psicossociais responsáveis por situações de estresse relacionado ao trabalho.

Avaliação de risco presentes no trabalho:
O reconhecimento das condições de risco no trabalho incluem três etapas principais: estudo inicial da situação; inspeção do local de trabalho e análise dos dados obtidos.

Estudo inicial da situação:
- Determinar quais são as possibilidades de risco e seus efeitos na saúde do trabalhador utilizando fontes de informação disponíveis como literatura especializada, banco de dados, relatórios técnicos, tabelas contendo o limite de tolerância ou limite de exposição ocupacional ou até mesmo por perguntas antecipadas a própria empresa que será estudada.
- Informações sobre o estado de saúde do trabalhador (sinais, sintomas, exames).
- Potencial de causar dano de determinado agente do ambiente de trabalho, o modo de ação de um agente sobre o organismo (lento ou rápido) e a possibilidade de penetração em pele intacta.

Inspeção do local de trabalho:
- Definir uma pessoa capaz de oferecer todas as informações pertinentes e que conheça todo o processo de trabalho. Anotar informações com clareza, fazer check-lists.
- Detalhar todos os materiais e produtos utilizados, a taxa de consumo e de como e onde são utilizados e qual a quantidade. Investigar sobre equipamentos, máquinas e fontes potenciais de contaminantes utilizadas no processo. Avaliar processos esporádicos que não estão acontecendo no momento da inspeção. Observar a possível influência de ambientes contíguos no local de trabalho. Investigar as vias de entrada no organismo de agentes químicos (via respiratória é a mais importante, avaliar o modo de respirar do trabalhador, assim como o tipo de atividade (trabalho pesado ou repouso)
- Investigar quais agentes podem ser adsorvidos através da pele. A avaliação da dose realmente recebida pelo trabalhador, seja agente químico ou físico, depende a concentração ou da intensidade e do tempo de exposição.
- Avaliação tem como objetivo fazer o planejamento de medidas de prevenção e controle.
- O número de trabalhadores expostos que devem ser protegidos influi a escolha de métodos e considerações econômicas.
- Avaliar cuidadosamente os sistema de controle existentes como equipamento de ventilação local exaustora para evitar falsa segurança, uso de EPI de forma inadequada.
- Cuidado com a exposição a agentes muito tóxicos, cancerígenos ou teratogênicos no qual mesmo concentrações muito baixas são significativas.

Análise das informações:
- Orientar o estabelecimento das prioridades.
- Condição de risco grave exige medidas preventivas imediatas.
- Sem evidência de risco, não há necessidade de novas avaliações, apenas se ocorrer mudanças que alterem a situação.
- Se a situação de risco não é clara, é necessária uma avaliação quantitativa para confirmar a presença e determinar a magnitude das condições.


Identificação e controle dos fatores de risco na perspectiva da higiene do trabalho e ergonomia.

Princípios básicos da tecnologia de controle, propostos pela Higiene do Trabalho:
-Evitar que um agente potencialmente perigoso ou tóxico para a saúde seja utilizado, formado ou liberado;
-Se isso não for possível, contê-lo de tal forma que não se propague para o ambiente;
-Se isso não for possível ou suficiente, isolá-lo ou diluí-lo no ambiente de trabalho; e, em último caso,
-Bloquear as vias de entrada no organismo: respiratória, pele, boca e ouvidos, para impedir que um agente nocivo atinja um órgão crítico, causando lesão.

A cadeia de transmissão do risco deve ser quebrada o mais precocemente possível:
- Controle do risco na fonte;
- Controle na trajetória (entre a fonte e o receptor);
- No caso de falharem os anteriores, controle da exposição ao risco no trabalhador;
- Quando isso não é possível, redução máxima do agente agressor.

O objetivo principal da tecnologia de controle deve ser a modificação das situações de risco, por meio de projetos adequados e de técnicas de engenharia que:
-Eliminem ou reduzam a utilização ou a formação de agentes prejudiciais para a saúde;
-Previnam a liberação de tais agentes nos ambientes de trabalho;
-Reduzam a concentração desses agentes no ar ambiente;

Todas as possibilidades de controle das condições de risco presentes nos ambientes de trabalho por meio de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) devem ser esgotadas antes de se recomendar o uso de EPI, particularmente no que se refere à proteção respiratória e auditiva.

A informação e o treinamento dos trabalhadores são componentes essenciais das medidas preventivas relativas aos ambientes de trabalho, particularmente se o modo de executar as tarefas propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a saúde ou influencia as condições de exposição.

Sumariando, as etapas para definição de uma estratégia de controle incluem:

1. Reconhecimento e avaliação dos agentes e fatores que podem oferecer risco para a saúde e para o meio ambiente, incluindo a definição de seu impacto: devem ser determinadas e localizadas as fontes de risco; as trajetórias possíveis de propagação dos agentes nos ambientes de trabalho; os pontos de ação ou de entrada no organismo; o número de trabalhadores expostos e a existência de problemas de saúde entre os trabalhadores expostos ao agente. A interpretação dos resultados vai possibilitar conhecer o risco real para saúde e a definição de prioridades para a ação;
2. Tomada de decisão: resulta do reconhecimento de que há necessidade de prevenção, com base nas informações obtidas na etapa anterior.
3. Planejamento: medidas e procedimentos preventivos a serem adotados frente a um problema;
4. Avaliação

No que se refere às condições de trabalho nocivas para a saúde, que decorrem da organização e gestão do trabalho, as medidas recomendadas podem ser resumidas em:
-Aumento do controle real das tarefas e do trabalho por parte daqueles que as realizam;
-Aumento da participação real dos trabalhadores nos processos decisórios na empresa e facilidades para sua organização;
-Enriquecimento das tarefas, eliminando as atividades monótonas e repetitivas e as horas extras;
-Estímulo a situações que permitam ao trabalhador o sentimento de que pertencem e/ou de que fazem parte de um grupo;
-Desenvolvimento de uma relação de confiança entre trabalhadores e demais integrantes do grupo, inclusive superiores hierárquicos;
-Estímulo às condições que ensejem a substituição da competição pela cooperação.